Publicado por: Renné | 23/08/2010

Um novo caminho

Eu me lembro muito bem do e-mail de uma professora portuguesa aceitando me orientar em sua Universidade. A partir daí, toda a correria para escrever o projeto, conseguir a bolsa, o visto, os preparativos para a viagem. A ansiedade, a dor de deixar para trás pessoas que eu amo. E agora, acabou.

Eu vejo duas fases distintas da minha vida fora de casa. Uma primeira, até fevereiro ou março, que é da descoberta e adaptação. Conhecer uma nova cultura, entender o andamento das coisas. E a seguinte já mais tranqüila, como alguém já adaptado e acostumado com a sua nova realidade. Mas é claro que sempre faltou algo. Por mais que te tratem bem, por mais que se acostume com a situação, você sempre é um estrangeiro, alguém que não pertence àquele mundo. Há uma sensação de ser incompleto, que você nunca é você mesmo.

Só agora, na hora de voltar, é que percebo isso mais claramente. Quero muito rever minha mãe, minha irmã, namorada, todos os amigos. Foi uma experiência única, tanto profissional quanto pessoalmente. Visitei lugares incríveis e conheci pessoas maravilhosas. Mas é com os nossos que nos completamos, e estou ansioso para pegar esse novo caminho. No momento sinto uma ansiedade enorme, pois quando saí do Brasil, sabia que ia voltar. Agora saio de Portugal sem saber se algum dia volto. Às vezes me pego olhando a programação do cinema da semana seguinte, como se eu ainda fosse estar por aqui. Mas não estarei.

Este é meu último post: o blog não tem mais sentido para existir. Isto aqui foi um espaço muito especial para mim, onde eu podia desabafar e manter a lucidez e ao mesmo tempo dar notícias para todo mundo.  Até o momento que escrevo, 28.778 visualizações em menos de um ano. É muito mais do que eu podia imaginar e agradeço a todos que me fizeram companhia por aqui. O blog não será mais atualizado, mas continuará online, perdido no infinito espaço virtual. Acho que vai ser interessante reler algumas passagens depois que toda a poeira abaixar. Obrigado e um grande abraço! Foi bom demais passear com vocês neste entrecaminhos.

A última foto que tirei em Portugal...

Publicado por: Renné | 20/08/2010

Como um rolo de filme antigo

Quando cheguei aqui em Portugal, uma das primeiras coisas que comprei foi um celular, ou telemóvel, como dizem aqui. Este telefone tem câmera fotográfica e foi com ele eu tirei minhas primeiras fotos por aqui, antes de comprar minha máquina digital.

Mas eu não tinha o cabo para ligar o celular ao computador e baixar as fotos. Então elas ficaram lá, perdidas dentro do telefone durante todo esse tempo. Nunca nem me lembrei de visualizá-las no aparelho. Quando Rafael veio a Portugal, trouxe o computador, que tinha Bluetooth. E ele descobriu sei lá como que meu celular também tem. E desse jeito, ele conseguiu baixar as fotos pro computador.

Fotos que eu nunca mais tinha visto… Ver aquilo foi uma sensação parecida com aquela de encontrar um antigo rolo de filme perdido no fundo de uma gaveta e mandar revelar. Encontrar imagens já há muito perdidas no tempo e espaço, fora de contexto, inacreditáveis na sua nostalgia.  Logo no final dos meus dias aqui eu fui reencontrar as primeiras imagens que fiz por aqui. Quem tirou essas fotos? É a mesma pessoa que agora as está vendo?

O início encontra o seu fim. E este blog, que começou na mesma época que estas fotos foram tiradas, também. Depois de muito tempo e um longo percurso, o caminho chega ao fim. O próximo post será o último. É bom voltar pra casa.

A primeira foto que eu tirei em Portugal...

Publicado por: Renné | 19/08/2010

Que mala…

Hora de voltar, malas prontas. Quer dizer, deviam estar… mas não estão. Consegue imaginar fazer uma mala depois de um ano morando fora? O que levar? O que deixar para trás? Tenho direito a duas malas pesando 23kg cada… Eu pensava que era muita coisa, mas aí fui fazer minha primeira mala. E ela lotou só com as minhas roupas de inverno… Só! Nada mais! E não adianta dizer que eu não dobrei as roupas direito e etc e que cabia mais… pois não falo de volume, mas de peso. 23kg só de roupa… de inverno!

E pra outra mala ainda faltam todas as outras roupas, os livros, mais as coisas que comprei por aqui, incluindo um videogame! Bom, já ficou claro que muito terá que ficar para trás… Já comecei a refazer a primeira mala, ligando o botãozinho do desprendimento e deixando algumas blusas em Portugal… Já vi que a coisa aqui vai ser dramática.

Minha luta contra a balança...

Publicado por: Renné | 17/08/2010

Óbidos

Óbidos é uma cidade dentro da muralha de um castelo medieval. Legal, né? Não… é muito legal! O lugar é encantador. A muralha do século XIV é muito bem conservada e pode-se andar sobre ela (se não tiver medo de altura, claro). O castelo foi reconstruído pelo primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques, depois que ele tomou a cidade dos mouros, em 1148.

É impressionante e muito bonito. Sem dúvida, um fecho de ouro para minha viagem com Rafael. Mais do que isso, a visita à cidade fechou as minhas viagens européias. Depois de Óbidos, Belo Horizonte. Falta menos de uma semana…

A cidade dentro da muralha

Publicado por: Renné | 16/08/2010

Coimbra

De Fátima para Coimbra. Como estamos no período das férias, nada das famosas festanças de repúblicas estudantis na cidade da mais antiga universidade portuguesa (século XIII). E claro que lá fomos nós para a lendária universidade. Vimos a Torre da Faculdade de Direito e a famosa biblioteca joanina, fundada no século XVIII.

Aproveitamos para comer o tradicional e delicioso leitão à bairrada e visitamos o parque à beira do rio Mondego, onde Pedro ia encontrar Inês às escondidas. Coimbra lembra muito as cidades históricas mineiras, mas carrega um ar mais melancólico, triste. Terra de reis portugueses, a cidade parece não possuir mais a imponência de outros tempos. Para mim, mais do que os aspectos históricos em si, o que mais chamava a atenção era reconhecer alguns lugares que foram descritos por Eça de Queiroz na sua obra-prima “Os Maias” (e que, claro, aparecem também na minissérie da Globo).

Coimbra parece, ao longo de seus vários séculos, ganhar vida com a presença de seus estudantes. Sem eles, é uma cidade pacata e sem muitas belezas naturais. Mas vale a pena conhecer pelo peso da tradição e da história que se respira a cada esquina.

Pátio da Universidade de Coimbra

Publicado por: Renné | 13/08/2010

Fátima

De Sintra e Lisboa, pegamos um ônibus para a cidade-santa portuguesa: Fátima. Em 13 de maio de 1917, três crianças (Lúcia, Francisco e Jacinta) levavam um rebanho até que, por volta do meio-dia, pararam (como sempre faziam) para rezar o terço. De repente, viram uma luz brilhante, onde se encontrava “uma senhora mais brilhante que o sol”, segurando um terço. Era a “Senhora do Rosário”, e praticamente todo mundo daqui e daí já ouviu falar do santuário e dos seus segredos. Eu não pretendia ir a Fátima, mas fui pelo pedido dos meus avós, devotos da santa. O lugar impressiona. Quente, árido, claro e grandioso, o Santuário de Fátima é um local de fé.

Logo na chegada, eu e Rafael vimos uma mulher andando de joelhos para atravessar o longo pátio que se estende em frente à basílica. Mas ela era apenas uma entre vários. Lugar de profunda devoção, Fátima foi o local mais espiritual que visitei. Que seja real ou não a história da aparição e dos segredos, a fé daquelas pessoas ali é a mais pura verdade.

A capelinha fica bem no lugar onde tudo aconteceu

Publicado por: Renné | 11/08/2010

Sintra

Rafael veio me visitar em Portugal. Após um final de semana em Lisboa, partimos para Sintra, que é bem ao lado da capital. A cidade de 23 mil habitantes era o local preferido dos reis portugueses para passarem as férias de verão. Nas colinas da cidade se encontram os mais suntuosos palácios e para visitá-los a melhor opção é pegar um ônibus ou alugar um carro. É claro que nós não sabíamos disso e fomos a pé. Não faça isso…

É uma subida infinita, em uma estrada sem passeio ou encostamento, com carros e ônibus tirando casquinha de você. Ou morre de cansaço ou morre atropelado. Mas bem, basta dizer que lá em cima a paisagem compensa. Quer dizer, o preço é meio salgado, mas depois de andar isso tudo, não há muita alternativa a não ser entrar no palácio.

O Palácio da Pena, lá no alto, foi construído no século XIX e é repleto de cores. Aliás, as construções da cidade são todas coloridas, carregando beleza e história. Uma cidade com cara de conto de fadas…

Não parece que é de brinquedo?

Publicado por: Renné | 06/08/2010

No fundo do mar

O Oceanário de Lisboa não faz parte do destino turístico comum de quem visita a cidade: a preferência é claramente pela parte histórica, como Belém e o centro. Meio “escondido” no Parque das Nações, é um lugar que merece ser descoberto. Mais do que isso, uma ida ao oceanário é um programa imperdível em Lisboa.

Inaugurado em 1998 e com uma média de um milhão de visitantes por ano, o oceanário busca reproduzir os quatro cantos do planeta: mudam os peixes, muda a iluminação, muda a temperatura. E de pé, ao lado do gigantesco aquário central, você se sente um pouco parte daquele mundo, como se estivesse acabado de chegar em um outro planeta.

É magnífico, é impressionante, e me deixou com sorriso no rosto durante toda a visita.

O impressionante peixe-lua

Publicado por: Renné | 29/07/2010

Mosteiro de Tibães

Desde que cheguei em Braga escuto falar do Mosteiro de Tibães, mas só agora, já no finalzinho da minha estada por aqui, que consegui vista-lo. Isso porque apesar de ficar em Braga, sua localização é muito, mas muito muito muito longe do centro da cidade.

O Mosteiro São Martinho de Tibães foi fundado no século XI e no século XVI foi a casa administrativa da congregação Beneditina que foi enviada para o Brasil. Uma parte do mosteiro se tornou hotel, com um bom restaurante e tudo muito bem cuidado e restaurado.

O mosteiro inclui a belíssima igreja de Tibães, alguns jardim magníficos, belas obras de arte sacra e uma curiosa arquitetura dos quartos. Mais um pedaço da história de Portugal que merece muito ser visitado. Ainda bem que não perdi essa oportunidade.

Já estou ficando com saudade dos azulejos portugueses...

Publicado por: Renné | 25/07/2010

A Origem

Christopher Nolan ganha rios de dinheiros para a Warner com os filmes do Batman. Em contrapartida, o estúdio parece dar ao diretor liberdade total para projetos “diferentes”. Já havia sido assim com “O Grande Truque” e é agora com “A Origem”. Este é o caso de filme que quanto menos se falar melhor para a experiência do espectador. Pode-se dizer que é basicamente uma espécie de “Onze Homens e um Segredo”. Só que se passa dentro de um sonho. Hein? É isso mesmo. O filme trata de um grupo, liderado por Leonardo DiCaprio, que é especializado em roubar idéias na mente das pessoas. Achou essa premissa uma viagem? Pois não faz idéia do que é o resto.

Nolan gosta de brincar com os dogmas da narrativa cinematográfica. Em “Amnésia” subverteu a edição linear ao contar uma história de trás para frente. “O Grande Truque” cria camadas narrativas e leva o conceito de flashback a um nível antes inimaginável. E em “A Origem”, o diretor transforma a noção de montagem paralela.

Quando (no inicinho do século XX), Griffith criou, inspirado pela literatura, as duas sequências simultâneas que no final culminavam no mesmo ponto, ele inventou uma forma de edição que é até hoje usada exaustivamente pela narrativa cinematográfica. Duas ações ocorrem simultaneamente, e são mostradas em paralelo, aumentando a tensão da platéia. Em “A Origem”, a montagem paralela se faz em quatro linhas narrativas diferentes (o que já é mais do que o normal), mas não se contenta com isso. O arco final do filme não junta apenas quatro espaços distintos. Junta quatro tempos diferentes. E quando falo em tempo, não estou dizendo de passado, presente e futuro. São segundos, minutos, horas, meses e anos. Uma ação que dura alguns segundos, acontece ao mesmo tempo que outra que dura minutos, outra que dura horas e uma outra que dura anos. Não são flashbacks. É uma ação paralela. Está realmente tudo acontecendo ao mesmo tempo.

Como o cineasta conseguiu isso? Só mesmo vendo o filme para entender. E isso é só um detalhe narrativo. O elenco está ótimo, a ação alucinante e a história é espetacular. “A Origem” é sobre a imagem, sobre idéias e sonhos. A linguagem do filme, assim como “Amnésia” e “O Grande Truque” já é a história contada nas telas. O filme faz com a gente o que os personagens procuram fazer nas telas: invade o nosso subconsciente e planta idéias que são difíceis de esquecer. Nolan talvez seja atualmente o mais original dos grandes diretores de Hollywood. Depois de “O Cavaleiro das Trevas” e deste “A Origem”, vou sem medo em qualquer coisa que ele dirigir. Mesmo que seja um filme da Xuxa.

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